Criaturas à solta!

O autor propõe, com “Criaturas”, uma reflexão sobre a tênue linha que divide o humano do desumano. Ele não só desafia a estrutura de civilidade criada por e para nós, mas a destrói completamente, desnudando aquilo que tanto nos esforçamos para camuflar: o mal, o sujo, o feio, o egoísta; e até mesmo sentimentos altruístas que, às vezes, escondemos por receio de sermos vistos como tolos.

A premissa básica deste livro é a de levar o leitor a mundos diversos ao que se observam por recorrentes no meio literário, resgatando um gênero raro no país. As histórias apresentadas fogem ao vulgar, bem como se utilizam de elementos cujo peso provoca toda sorte de considerações, valendo-se de extensa pesquisa para compor a ambientação de cada narrativa e explorando a emoção mais forte e mais antiga do homem, aquilo que assombra a humanidade desde sua aurora até o presente: o medo do desconhecido.

Soldados, policiais, seres fantásticos, ordens iniciáticas são algumas das personagens que desfilam em textos nos quais o horror é tratado como deve ser: uma força na escuridão, um útero purulento onde entidades hediondas rastejam aguardando o momento para saltar sobre vítimas cujo espírito perceberá tarde demais que o aparentemente não visto existe e as observa. Aventure-se por este universo e descubra que, “para a desgraça da espécie humana, mais uma página se cumpriu!”

Sinopse dos contos de "Criaturas"

RETRATO DE FAMÍLIA

O ano é 1944, sul da Normandia. Aquele jovem norte-americano não fazia idéia do que iria encontrar quando decidiu se alistar no exército e lutar numa guerra que foi imposta à sua nação. Além do terror e da morte à sua volta, ele se encontra com seus próprios fantasmas, que parecem tão ou mais vivos do que ele.

VISITA AO NECROTÉRIO

O inspetor Maurice Lacroix é encarregado de investigar um crime hediondo, praticado com uma crueldade bizarra e idêntico aos de um assassino em série já capturado e executado há 30 anos... Seria um imitador? Mas se o fosse, ele saberia de detalhes que a polícia não divulgou... A cidade de Paris está em polvorosa e a mídia clama por esclarecimentos da polícia. Durante a investigação, Lacroix põe à prova toda a sua competência profissional e o pouco que ainda resta de sua sanidade...

AQUELE QUE VIVERIA

Este conto narra as aventuras de Allan Scott na tentativa de desvendar os mistérios sobrenaturais que envolvem a morte de uma jovem desconhecida.

Segue trecho do conto:

“O sabor amargo de uma noite atribulada desperta um aturdido Allan Scott. Assaltado por uma enxurrada de memórias que saltam em flashbacks, sua mente encontra-se perdida em divagações acerca de como chegou até ali e o que faria naquele local.
Forçava sua visão para observar os limites do lugar em que se encontrava e que tipo de paragem seria aquela. Entretanto, o sítio encontrava-se envolto em um manto profundo de trevas, impossibilitando uma análise mais complexa. Sentia-se extremamente solitário, como se um holocausto houvesse se abatido sobre a população humana e só ele houvesse sido poupado para vagar por entre as ruínas de uma civilização extinta, de forma semelhante a um espírito errante que não encontrara o repouso final”.

A CRIATURA

Segue trecho do conto:
“A suave brisa do Atlântico beija sua face, soprando o hálito adocicado de eras passadas sobre uma Paris adormecida. Seu espírito vagueia por entre memórias quase tangíveis que remontam a um período cuja existência mantém-se em um recôndito obscuro de sua alma. O fluido azul-turquesa a correr pela via que o conduz a um passado distante traz consigo os horrores de dor e resignação próprios a uma criatura fantástica, um espécime deslocado de sua realidade por elementos além de seu poder ou compreensão (...).
Olhos capazes de perscrutar além do comum bebem de um cenário semi-estático onde apenas os animais noturnos marcham rumo ao arché de suas existências, ignorantes quanto àquele a observá-los através de órbitas das quais a luz da jovialidade há muito houveram abandonado. Prostitutas, ladrões, transeuntes incautos vagam por entre as veias de um organismo em repouso, divisando-lhe o fluido tal como hemácias e plaquetas o fazem no microcosmo de cada ser... O gado, em sua efêmera segurança ao se autoproclamar mestre deste reino da matéria”.

O VENDEDOR DE TAPETES

Achmed Abdul era um simples vendedor de tapetes que todos os dias enfrentava o sol escaldante do Cairo para garantir o sustento de sua família. Mas, naquele dia, um simples esbarrão iria mudar completamente o seu destino. Um homem estranho, apressado e mal-humorado deixa cair um diário. A curiosidade e a expectativa de uma boa recompensa fazem Achmed recolher o objeto, mas este ato termina por envolvê-lo em um mistério de dimensões assombrosas...

O MENDIGO DE VINCENNES

Matteus Girraud, herói de guerra, precisa sobreviver à sua miserável condição de mendigo. Mas esta noite ele tem problemas maiores do que disputar restos de comida com ratos. Esta noite ele vem sendo atormentado pela terrível visão de um assassinato do qual, aparentemente, fora a única testemunha. Correndo pelas ruas escuras de Vincennes, um dos bairros mais perigosos de Paris, Girraud tenta desesperadamente fugir da polícia, da imprensa, de homens estranhos que parecem pertencer a uma misteriosa seita; e de seus próprios pesadelos...

BOM GAROTO

Os irmãos Francis e Brian Miller são duas crianças que sofrem com a violência física e moral do pai autoritário e com a total falta de atitude da mãe. Eles também contam com o desprezo da irmã, Lisie, que é a “queridinha do papai”. A vida destes dois garotos começa a mudar quando encontram um cachorro vira-latas no meio da rua e resolvem levá-lo para casa e escondê-lo, até encontrarem uma maneira de convencer a irmã a pedir ao pai que aceite o cão, pois sabiam que a ela o Sr. Miller não negaria.
O animalzinho, porém, começa a demonstrar um comportamento estranho, ao mesmo tempo em que os corpos de alguns desafetos dos meninos misteriosamente desaparecem, configurando mortes um tanto bizarras...

O PAI DAS LENDAS
Este conto narra as memórias do primeiro vampiro que surgiu na Terra: a misteriosa transformação, suas andanças por este mundo ao longo de milênios de existência, a descoberta de que poderia transmutar outros e torná-los seus “filhos”, as muitas lendas que foram criadas por diferentes povos nos lugares mais distantes e sua sobrevivência após o triste fim de todos de sua espécie e da própria humanidade. Esta é a história da mais antiga e solitária das criaturas que ainda caminha pelo planeta, apesar de não possuir mais motivos para existir.

Alguns spoilers (se você quise rmanter a surpresa, não leia este trecho!):

O cãozinho do conto "Bom garoto" é sem raça definida (vira-lata). O animal é o resultado do cruzamento entre um maltês e um poodle médio.

O livro encontrado por Ahmad Abdul, no conto "O vendedor de tapetes"  pertence a uma outra personagem que também está no livro "Criaturas".

O Inspetor Lacroix é viciado em anti-depressivos e analgésicos. Ele também esconde um segredo que remete a evento que alterou  história de seu mundo para sempre.

O conto "O pai das lendas" narra as memórias do primeiro (e último vampiro) a caminhar sobre a terra.

Em vista ao necrotério, há uma mensagem no osso encontrado pelo Inspetor Lacroix no cadáver não identificado redigida no memso idioma da raça que habitou seu mundo.

O mendigo de Vincennès é uma das personagens-chave de sua história.

Existem dua sordens iniciáticas lutando pelo controle da realidade de Lacroix, do mendigo e da Criatura.

O mundo onde Maurice Lacroix, o mendigo de Vincennès e a Criatura vivem situa-se numa outra realidade, onde o homo sapiens conviveu com uma raça de seres até uma determinada época. Esta ligação influenciou a arquitetura, tecnologia e o modus vivendi da humanidade.

O jovem recruta do conto "Retrato de Família" encontra algo de seu passado durante a história.

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Editora: La Barca
ISBN: 9788562436055
Ano: 2011
Páginas: 220